quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Transexuais e Travestis: Qual a diferença?


De uns tempos pra cá, uma palavrinha apareceu nas siglas de movimento gay, que deixaram de usar o comercial GLS, para uma sigla mais de luta, de reinvindicação – GLBT, GLTTB, GLT2, à escolha do freguês... A novidade em todas elas é o T, que acabou na prática juntando num mesmo saco duas coisas totalmente diferentes e trazendo mais confusão para um assunto que muito gente já achava complicado. A palavrinha é Transgêneros.
E não, não estou falando de soja.
Transgêneros surgiu para englobar Transexuais e Travestis. E, cá entre nós, prestou só um desserviço. Porque muita gente que não tem contato com o meio gay (e MUITAS que tem!) acaba achando que os dois são a mesma coisa– e não são. 
E pra explicar isso, vou me apropriar aqui de algumas definições do Dr. Cláudio Picazio, sexólogo, que conseguiu isolar os quatro pilares da sexualidade humana e explicar como que esses pilares se combinam, formando as mais diferentes variações de gênero, identidades, papéis e orientações sexuais. 
Gênero é o seu sexo biológico. É o que o médico vê quando você nasce. Biluzinho ou potoquinha. São dois: Homem e Mulher. 
Orientação Sexual tem a ver com desejo, com atração. Com quem você quer ir pra cama? Com alguém do seu sexo? Com alguém do sexo oposto? Tanto faz? São três, respectivamente: Homossexual, Heterossexual e Bissexual.
Papel Sexual tem a ver com comportamento. Você é mais masculino ou mais feminino? Uma mulher caminhoneira está num papel masculino. Um homem que pinta as unhas está num papel feminino. Note que Papel Sexual não tem nada a ver a com Orientação Sexual – ou seja, um homem efeminado ou uma mulher masculinizada não necessariamente são homossexuais. Assim como um cara todo machinho não é necessariamente hetero. Papéis sexuais são grande fonte de discriminação, uma vez que é exatamente como a sociedade percebe você. E se esse papel não está em acordo com o que se espera do seu Gênero, o povo se escandaliza. 
Ou inventa coisas como os metrossexuais, por exemplo, pra poder absorver homens em papéis mais delicados.
Mas o mais complicado dos pilares é o da Identidade Sexual. E é exatamente ele o responsável pelos travestis e transexuais, ainda que de forma diferente. Identidade Sexual é como você se percebe. Alguns chamam de sexo cerebral. Na sua cabeça, você acha que é o que? Homem ou Mulher? Um menino hetero típico tem gênero masculino, papel masculino, orientação heterossexual e identidade é masculina. Ponto. Mas um e-jovem típico, enrustido, tem gênero masculino, papel masculino, orientação homossexual e uma identidade também masculina. Ele não quer ser mulher, ele só curte outros garotos. A única diferença entre um menino gay e um hetero é sua orientação sexual. E o mesmo vale pras meninas hetero e lésbicas e entre todos estes e os bissexuais. 
No caso das transexuais, porém, a identidade sexual não está de acordo com o seu sexo biológico. Independente do gênero (podem nascer homens ou mulheres), papel (tem os mais masculinos até os bem efeminados) e orientação (existem transexuais hetero e transexuais homo), o que define o transexual é que seu corpo é de um sexo, mas seu cérebro é de outro. São mulheres presas num corpo de homem, ou vice versa.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Há Momentos (Clarice Lispector)




Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

Clarice Lispector

sábado, 4 de agosto de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATENDIMENTO ÀS TRAVESTIS E AOS TRANSEXUAIS NO CAMPO DA SAÚDE: A NECESSÁRIA INTERSEÇÃO DAS DEMAIS POLÍTICAS SOCIAIS PARA UM ATENDIMENTO DE QUALIDADE.





MÁRCIA CRISTINA SANTOS

1
Resumo:
As reflexões levantadas no presente trabalho são provenientes da intervenção de uma
equipe de assistentes sociais  do programa do processo transexualizador  de uma
instituição de ensino e saúde no Estado do Rio de Janeiro. Percebeu-se que as pessoas
transexuais e travestis  apresentam níveis de escolaridade baixos. Relatos dos usuários
atendidos apontam o isolamento no espaço escolar e a vergonha diante das humilhações
sofridas e provocadas, sobretudo pelos colegas de classe, como motivos do não
prosseguimento dos estudos e abandono escolar ainda no ensino fundamental. O
presente estudo trabalha com dados oriundos do atendimento social utilizando
informações da entrevista inicial buscando  articular a  dificuldade de inserção no
mercado de trabalho, a baixa escolaridade e baixa autoestima à problemática do acesso e
permanência na escola e a formação profissional.
Palavras-chave: Gênero, diversidade sexual, saúde coletiva, abandono escolar,
integralidade.
                                                       
1
Assistente Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ Hospital universitário Pedro
Ernesto. mcristinabrasil@hotmail.com.Introdução:
Esse tema surgiu como objeto de nossa reflexão a partir da intervenção
cotidiana na  condição de Assistente Social de uma equipe multiprofissional que
desenvolve parte de suas atividades laborativas e de pesquisa no Hospital Universitário
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, um dos quatro Centros de Referência para
realização de cirurgias de redesignação sexual existentes atualmente no Brasil.
Por este motivo e, por ser um hospital universitário de grande porte, o HUPE, tornou-se
ao lado de outras três
2
grandes unidades de saúde do país, um dos Centros de Referência do
Processo Transexualizador no SUS. Entende-se por processo transexualizador “o conjunto de
alterações corporais e sociais que possibilitam a passagem do gênero atribuído para o gênero
identificado; a cirurgia de “redesignação sexual” não é a única etapa deste processo” (Bento, B.
2008: 146), cabendo ao sistema de saúde e demais segmentos das políticas públicas (educação,
assistência, previdência, justiça, entre outros) uma ampla e complexa teia de ações no sentido de
garantir o acesso e usufruto dos direitos humanos, princípios inalienáveis a serem perseguidos
incansavelmente por todos aqueles e aquelas que sonham com uma sociedade mais justa e
emancipada, na qual os direitos humanos mais básicos sejam respeitados e garantidos a todas e
todos.
O Hospital Universitário Pedro Ernesto e as ações de saúde voltadas para o
atendimento aos Transexuais.
O programa executor do Processo Transexualizador do SUS no Rio de Janeiro,
desenvolve-se atualmente no HUPE sob o nome GEN – Grupo de Atenção Integral à
Saúde Transexual. Inicialmente,  chamava-se “Grupo multidisciplinar de Atenção
Integral à Saúde do Portador de Disforia de Gênero”, mas em razão do “movimento de
despatologização”
3
, foi substituída  posteriormente a expressão “disforia de gênero” por
“saúde transexual”.
Em 2009, o Programa GEN contava com 129 usuários (as) em
acompanhamento, um número em constante crescimento. Destes, 116 eram mulheres
transexuais e 13 homens transexuais. Já haviam sido realizadas  47 cirurgias, 475
atendimentos urológicos,779 atendimentos em saúde mental, 320 atendimentos
especializados e o tempo médio de espera para a cirurgia após a liberação da saúde
mental era em torno de 36 meses (3 anos).
Como o HUPE é um dos quatro centros  de referência do processo
transexualizador brasileiro, ele recebe moradores do Rio de Janeiro (capital e interior) e

Processo transexualizador pelo SUS


Qualquer cidadão que procure o sistema de saúde público, apresentando a queixa de incompatibilidade entre o sexo anatômico e o sentimento de pertencimento ao sexo oposto ao do nascimento, tem o direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde assegura o direito ao uso do nome social. O usuário pode indicar o nome pelo qual prefere ser chamado, independentemente do nome que consta no registro civil. No caso de usuário que já esteja fazendo uso de hormônios sem acompanhamento médico, será realizado encaminhamento imediato ao médico endocrinologista.

1. Acompanhamento Terapêutico:
Consiste na promoção da saúde integral, com especial ênfase na re-inserção social. Compreende três dimensões: médica, psicológica e social. O acompanhamento terapêutico não se restringe apenas ao diagnóstico ou à avaliação da pertinência da realização da cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo) ou intervenções sobre gônadas e caracteres sexuais secundários. Ao usuário deve ser assegurada a liberdade para descobrir, com o amparo profissional, estratégias de promoção do seu bem-estar.
O processo psicoterapêutico resguarda ao transexual o direito às diferenças comportamentais e subjetivas. O acompanhamento terapêutico médico-endocrinológico deve se pautar na perspectiva da redução de danos, em exames com periodicidade mínima semestral para acompanhamento dos efeitos do uso das medicações determinadas.
A assistente social deverá reconhecer a dinâmica relacional do usuário, a fim de promover estratégias de inserção social na família, no trabalho, nas instituições de ensino e nos demais espaços sociais prementes na vida do indivíduo transexual.
2. Transgenitalização:
Intervenções médico-cirúrgicas devem atender aos critérios estipulados pela Resolução Nº 1.652/2002 do CFM, que determinam o prazo mínimo de dois anos de acompanhamento terapêutico como condição para a viabilização de cirurgia, bem como a maioridade e o diagnóstico de transexualismo.
Transcorridos os dois anos de acompanhamento terapêutico, caso o usuário seja diagnosticado transexual estará apto a se submeter à cirurgia de transgenitalização, o que não significa que deva necessariamente se submeter a este recurso terapêutico.
A cirurgia de transgenitalização deve ser concebida como um dentre outros recursos terapêuticos dos quais dispõe o indivíduo transexual em seu processo transexualizador.
A escolha pela intervenção na genitália deve ser alcançada pelo usuário através do processo psicoterapêutico e social, requerendo:
- Conhecimento acerca dos aspectos cirúrgicos;
- Conhecimento dos resultados cirúrgicos em suas dimensões estética e funcional;
- Consideração crítica das expectativas que acompanham a demanda de transgenitalização;
- Consideração crítica das conseqüências estéticas e funcionais da intervenção cirúrgica experiência pessoal e relacional do indivíduo transexual;
- Consideração crítica de outras alternativas necessárias para a melhoria da qualidade de vida, sobretudo no que se refere às relações sociais.
Os profissionais que compõe a equipe são responsáveis por incitar o questionamento da demanda transexual de transgenitalização, que deverá ter como conseqüência, no caso da opção pela intervenção cirúrgica, do consentimento livre e esclarecido do(a) usuário(a).
A cirurgia de transgenitalização para construção do pênis são experimentais e têm sua viabilização condicionada a protocolos de pesquisa em hospitais universitários. As demais cirurgias transexualizadoras para homens transexuais (histerectomia e mastectomia) não encontram essa restrição.
Em caso de internação médico-hospitalar, o(a) transexual será internado(a) na enfermaria em conformidade ao sexo com o qual se identifica socialmente, a despeito do nome que conste no registro civil.
3.Atenção Continuada
O Processo Transexualizador no SUS apresenta situações que exigem a atenção continuada do usuário da saúde. A hormonioterapia requer o uso contínuo de hormônios por longos períodos de tempo, por isso, há necessidade da assistência endocrinológica continuada. Os exames devem ser realizados com intervalo máximo de um ano, a fim de reduzir danos por efeitos colaterais do uso da medicação, e para viabilizar diagnósticos precoces em relação a câncer e baixa densiometria ósseos.
A transgenitalização implica na atenção pós-cirúrgica, que não restringe seu sentido à recuperação física do corpo cirurgiado, mas também à própria pesquisa dos efeitos da medida cirúrgica na qualidade de vida do(a) transexual cirurgiado(a). O acompanhamento pós-cirúrgico deve se estender por pelo menos dois anos após a ocorrência do procedimento. O tratamento psicológico e social se mantém como possibilidade a todo usuário que retorne ao SUS com demanda de psicoterapia ou de assistência social, mesmo havendo o paciente se desvinculado dos programas de atenção por tempo indeterminado.
  
  
disque saúde 0800 61 1997
Ministério da Saúde
Esplanada dos Ministérios - Bloco G - Brasilia / DF
CEP: 70058-900

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Dicas de como sobreviver como transexual.




Bom, a maioria das transexuais vão dizer : Mas e ai,qual a novidade !   * rsrs *  mas as dicas servem também para explicar aos curiosos de plantão, que vez ou outra fazem aquelas perguntas que todas nós transexuais já conhecemos
Tipo = Como vocês conseguem esconder o penis ? * isso para as que não são operadas *
como fazemos pra ficar com corpo tão feminino.
Ou até mesmo perguntas do tipo = como se sente sendo uma transexual ? * amo ser transexual ..rsrs *
e muitas outras dúvidas que surgem da cabeça dos admiradores e curiosos.


Algumas técnicas para disfarçar o volume do órgão masculino

O método mais simples e rapido é chamado "Cache-Sex", comprado em lojas especializadas.semelhante a um slip,que achata opénis,
apertando este e os testículos. Não é muito confortável e pode ser até incomodativo.
Eu particularmente não gosto. rsrs







Os outros dois métodos são conhecidos por "Tucking" e "Taping".

TUCKING


O “tucking” é uma técnica de posicionar o pênis entre as pernas que faz com que o volume dos órgãos genitais masculinos fique mais “discreto” ou desapareça inteiramente. É um procedimento básico quando se deseja vestir alguma roupa mais curta,ou até mesmo um biquíni. A técnica de “tucking” está descrita abaixo, passo a passo.


1 – Fique de pé, com as pernas afastadas, o tronco inclinado para a frente
2 – Empurre os testículos, um de cada vez, para dentro da cavidade abdominal (veja a foto ao lado), como se “esvaziasse” a bolsa escrotal

3 – Mantenha os testículos dentro da cavidade abdominal e puxe o pênis para trás, firmando-o sobre os testículos já acomodados.

4 – Ajeite as bordas da bolsa escrotal, segure firme todo o conjunto e pressione as coxas uma contra a outra.

5 – Puxe a calcinha para cima e ajuste-a no lugar, a partir do meio das pernas e ajeite todo o conjunto para trás, no sentido cintura-nádegas. Se achar que não está suficientemente firme, basta usar uma segunda calcinha por cima da primeira.




  
TAPING

Este método é muito semelhante ao anterior, com a diferença que bolsa escrotal, ao invés de ficar sob o pénis (quando este é puxado para trás), neste método o escroto envolve o pénis, havendo uma fita que é enrolada ao escroto e pénis, dando a sensação de um lábios vaginais maiores. Essa fita é posteriormente puxada por entre as pernas. Este método é moroso, e requere mais cuidados, tanto na forma de apertar a fita ao escroto e pénis de forma a não restringir a irrigação contínua, como na própria fita a utilizar. Este método permite urinar sentado.



                                 
------------------------------------------------------------------------------------------------------------

CORPO E ALMA FEMININA

Bom, existem vários métodos para conseguir um corpo cheio de curvas e contornos,sonho de qualquer mulher. *tratamento hormonal correto*indicado por um médico,os hormônios ajudam muito o corpo a ganhar formas femininas naturalmente, cuidados com alimentação e exercícios.
Mas também existem cirurgias, para os casos de correção,feminilização facial,próteses de silicone de seios e glúteos e muitas outras cirurgias estéticas.
A saúde mental também é primordial para uma transexual,pois da mesma forma que uma mulher pode ser considerada deselegante por algumas atitudes, nós também estamos sujeitas a certos erros e deslizes.
Como mulheres,temos quase que uma obrigação de sermos delicadas, amigas, companheiras,compreensivas
mesmo quando  as vezes o resto do mundo não é com a gente.
 Ser uma mulher transexual, não tem só haver com aparência, mas também  com a alma e com o coração.


Em breve continuação...



COMPORTAMENTO: Transexualidade: uma verdade incontestável



O transexualismo é uma realidade para muitas pessoas que buscam sua felicidade na mudança definitiva de sexo e identidade. É a contradição de uma imagem fictícia e uma verdade incontestável. Pessoas que apresentam um comprometimento emocional e insatisfação sexual por conta da incompatibilidade quanto “àquilo” que são de fato e o que o corpo apresenta.


O que me chama a atenção é que a transexualidade não é um fenômeno, porque não é extraordinário, mas uma constatação que discutir sexualidade vai muito além do sexo. É compreender mais sobre a constituição de identidade do que, meramente, órgãos sexuais. O transexual prova que seu destino não é traçado na maternidade, me permita assim o poeta.

Conforme o CID-10 (classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados com a saúde), trata-se de um desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. Este desejo é reprimido por conta de um sentimento de mal estar ou de insatisfação em relação aos próprios genitais, envergonha-se evitando tocá-los. As frustrações no ato sexual são inevitáveis.

De fato, os comprometimentos emocionais por conta desta confusão na identidade de gênero pode levar a um embotamento afetivo, isolamento social e a uma condição cada vez mais marginalizada. A identidade de gênero é a maneira como a pessoa se sente, se identifica e se apresenta para si e para os outros e independe do sexo biológico. O conflito do transexual é não se sentir completamente uma mulher porque o corpo masculino não corresponde à subjetividade feminina ou vice-versa.

Existem ainda algumas variações sexuais que num primeiro momento podem confundir-se ao transexualismo: o travestismo e o crossdresser. No travestismo, as pessoas se vestem como o sexo oposto e possui um ingrediente prazeroso em sentir-se como tal. O crossdresser é parecido com o travestismo, mas não implica, necessariamente, na orientação homossexual. Caso mais conhecido é o cartunista Laerte, exemplo de crossdresser.

A questão é que sentir-se masculino ou feminino difere de sentir-se homem ou mulher, até porque estas últimas classificações são estereotipadas e reforçam a dicotomia social. O que determina a existência de uma pessoa é identificar-se com seus desejos, encontrar-se com as próprias referências e assumi-las, ou seja, masculino ou feminino.

No caso dos transexuais admite-se a diferença sexual alicerçada pela identidade de gênero, logo, ter um pênis ou uma vagina pode ser uma exigência pessoal. É então que a cirurgia de redesignação de sexo ou transgenitalização é o caminho mais provável e, na maioria dos casos, providencial. No Brasil, desde 1997 este procedimento é gratuito. Mas é bom salientar que cada caso é estudado com muito cuidado e adotando todos os critérios possíveis e necessários, principalmente no que diz respeito à psicoterapia e aos requisitos médicos.

Depois de confirmado o diagnóstico de transexualismo, uma vez que a pessoa pode apresentar outros transtornos de personalidade concomitantes, iniciam-se os procedimentos fundamentais para a cirurgia. Hormonioterapia ajuda o indivíduo, aos poucos, renunciar as características sexuais contrárias de sua real identidade sexual. No caso do transexual homem para mulher, hormônios anti-endrogênios que promovem um atenuamento na voz e na pele, aumento de gordura e crescimento de mamas e eliminam pelos através da eletrólise, uma depilação definitiva. Quanto a cirurgia, são retirados os testículos e o pênis (penectomia). A vaginoplastia aproveita os tecidos internos e constitui uma neovagina. Ainda, o nariz é afinado e o pomo de adão retirado.

No transexual mulher para homem são administrados hormônios androgênios que promovem crescimento dos pelos, engrossamento da voz e ganho de massa muscular, e na cirurgia é feito o procedimento de mastectomia (retirada das mamas); histerectomia (retirada do útero) e oforectomia (retirada dos ovários). A faloplastia consiste em enxertos feitos para constituir um neofalo e, com ajuda de uma prótese, deixá-lo ereto.

O impacto é grande na vida das pessoas que se submetem a estes procedimentos e, ainda assim, mesmo depois de todo este sacrifício deve-se superar uma etapa não menos dolorosa, o preconceito. O transexual ainda possui muita dificuldade em se relacionar com alguém que compreenda o conflito vivido e a nova existência. No entanto, a sociedade deve acolher estas pessoas que desmistificam os determinismos genéticos, quebram estereótipos e classificações sociais e, provam que a identidade sexual não é uma característica secundária. Para o transexual, entre ser ou não ser, felicidade rima com reconhecimento e aceitação.

Breno Rosostolato é professor de Psicologia da FASM (Faculdade Santa Marcelina).